08 Jul 4.3 Promoção do Patrocínio
Os utilizadores do presente recurso de formação online são responsáveis por entrar em contacto com as organizações governamentais e locais, de modo a garantir o acesso a informação relevante sobre o patrocínio de refugiados na sua comunidade.
O que ter em mente ao contar as experiências
Por que você poderia querer contar para os outros suas experiências com o patrocínio?
- Aumentar a conscientização e o apoio do público em favor dos refugiados e envolver outras pessoas no patrocínio;
- Se inteirar das boas práticas para melhorar a experiência de patrocínio para o benefício de todos;
- Contar sobre as conquistas das quais você se orgulha e sobre as lições que você aprendeu;
- Conectar com uma comunidade mais ampla de patrocínio de refugiados e com comunidades que promovam a inclusão.
O que poderia ser útil ter em mente?
Para colher os benefícios de contar as experiências de patrocínio de refugiados e evitar consequências negativas não intencionais, vale a pena ler os Princípios Orientadores e ter em mente essas considerações:
Privacidade e autodeterminação
Compartilhe apenas informações aprovadas pelos refugiados recém-chegados, tendo em mente que eles poderão não ficar à vontade para dizer “não” para você ou seu grupo de patrocínio. Pense em uma forma de contar sobre eles de maneira que eles se sintam empoderados, e esteja preparado(a) para que a resposta seja no sentido de não contar absolutamente nada. (Veja Privacidade, Confidencialidade e Considerações sobre Poder)
2. Segurança
Tenha em mente que comunidades étnicas, culturais, religiosas ou outras que participam de comunidades de reassentamento pelo mundo afora podem fazer com que informações sejam espalhadas rapidamente. Independentemente da ausência de discriminação ou dano explícito, é possível que os refugiados recém-chegados não se sintam completamente seguros. A forma de as histórias deles serem divulgadas, ou o fato de serem divulgadas, pode afetar o bem-estar deles de maneira positiva ou negativa. As preocupações com a segurança podem:
- levar agressores de violência doméstica a se inteirarem do paradeiro do(a) sobrevivente;
- causar a expulsão de uma pessoa de sua comunidade religiosa caso outros se inteirem sobre sua orientação sexual;
- levar os pais de um transgênero a serem ameaçados caso o paradeiro de seu filho seja divulgado.
3. Narrativas de vítimas indefesas
Pense sobre a possibilidade de sua mensagem reforçar uma história simplista ou negativa sobre refugiados, que faça desses vítimas indefesas, incapazes de tomar suas próprias decisões (importante as considerações sobre poder) quando adentram a comunidade de assentamento. Pense sobre formas de contar suas experiências sem estimular generalizações sobre qualquer comunidade ou indivíduo, seja esse um refugiado, outro tipo de recém-chegado ao país ou sobre o patrocínio.
4. Permanência das informações na mídia
Dado que é difícil remover informações da mídia - inclusive da mídia social - onde essas se tornam permanentes, pode ser importante para seu grupo de patrocínio e para os refugiados recém-chegados entenderem que revogar o consentimento após a divulgação de informações para o público pode não ser possível.
Cenário: Contando Histórias
Durante um evento social, o Paolo encontra Mariana, uma ex-colega de trabalho. A conversa segue assim:
Paolo: Oi, Mariana! Faz tempos que não te vejo. Por onde você tem andado?
Mariana: Oi, Paolo, tudo bem! E aí, como tem passado?
Paolo: Estou naquela correria. Eu e meus amigos estamos apadrinhando uma família de refugiados.
Mariana: Sério? De onde eles são?
Paolo: Eles são de Eritreia, mas estavam no Sudão do Sul antes de chegarem no mês passado.
Mariana: Poxa, o que você está fazendo é incrível. O que aconteceu com eles?
Paolo: Bom, o pai, Kidane, foi para a cadeia por ser jornalista. E acho que a esposa dele, a Mariam, foi violentada por um membro de uma milícia.
Mariana: Que horror. Graças a Deus eles agora estão aqui.
Paolo: É, nós os colocamos em uma terapia de grupo. Acho que está ajudando.
Mariana: É importante que eles tenham uma rede de apoio aqui.
Paolo: Com certeza. Aquele que vem vindo ali é o Kidane. Deixa eu te apresentar para ele.
Mariana: Claro!
Que informação compartilhada pelo Paolo pode não ser apropriada nessa situação?
De que forma divulgar essas informações levanta preocupações em termos deprivacidade e confidencialidade?
Ponto de reflexão: Qual(is) resposta(s) do Paolo você mudaria, e como?
Leia novamente o roteiro da situação atentando a cada uma das respostas do Paolo.
Durante um evento social, o Paolo encontra Mariana, uma ex-colega de trabalho. A conversa segue assim: Paolo: Oi, Mariana! Faz tempos que não te vejo. Por onde você tem andado? Mariana: Oi, Paolo, tudo bem! E aí, como tem passado? Paolo: Estou naquela correria. Eu e meus amigos estamos apadrinhando uma família de refugiados. Mariana: Sério? De onde eles são? Paolo: Eles são de Eritreia, mas estavam no Sudão do Sul antes de chegarem no mês passado. Mariana: Poxa, o que você está fazendo é incrível. O que aconteceu com eles? Paolo: Bom, o pai, Kidane, foi para a cadeia por ser jornalista. E acho que a esposa dele, a Mariam, foi violentada por um membro de uma milícia. Mariana: Que horror. Graças a Deus eles agora estão aqui. Paolo: É, nós os colocamos em uma terapia de grupo. Acho que está ajudando. Mariana: É importante que eles tenham uma rede de apoio aqui. Paolo: Com certeza. Aquele que vem vindo ali é o Kidane. Deixa eu te apresentar para ele. Mariana: Claro!
Em seu diário de treinamento, escolha, dentre as respostas do Paolo, as que você pensa que suscitam questionamentos sobre privacidade e confidencialidade. Redija uma nova resposta para o Paolo, uma que evite tais preocupações.
Coisas a ponderar ante de contar as experiências
Apesar de parecer difícil de incorporar as ponderações sobre contar ou não as histórias sobre o patrocínio de refugiados pensando nas consequências, fazer essas ponderações pode ser poderoso e transformador para os refugiados recém-chegados e para as comunidades que os acolhe - bem como para o patrocínio propriamente dito. Independentemente de seu grupo de patrocínio estar envolvido com eventos ou campanhas maiores ou estar empenhado em navegar cuidadosamente pelas conversas do dia a dia com pessoas que estejam particularmente curiosas, essas considerações e estratégias podem ser úteis.
- Converse com seu grupo de patrocínio e com os refugiados recém-chegados para determinar se algo poderia ser compartilhado, e, caso positivo, o que deve ser contado e como.
- Lembre-se que o que mais importa é a preferência dos refugiados recém-chegados, a privacidade deles e os limites estabelecidos por eles.
- Há salvaguardas específicas ou regras sobre privacidade com as quais seu grupo tenha se comprometido no programa de patrocínio de refugiados de seu país?
- Seria útil ter um formulário de consentimento livre e esclarecido que os refugiados recém-chegados pudessem assinar?
- Pode ser útil refletir sobre a possibilidade de definir orientações para lidar com a mídia tradicional e social.
- Seria suficiente para o grupo estabelecer um acordo verbal, ou seria útil assinar um compromisso de adesão coletiva das orientações estabelecidas por escrito (caso essas tenham sido estabelecidas)?
- Volte a conversar e valide novamente o entendimento do grupo e dos refugiados recém-chegados sobre esse assunto durante o período de patrocínio caso as preferências ou os limites tenham mudado, e esteja aberto a essa mudança.
- Caso os refugiados recém-chegados entendam perfeitamente o escopo de seu consentimento e queiram assumir esse compromisso, certifique-se de avaliar junto a eles quais são os limites desse compromisso. Algumas opções em termos de nível de compromisso poderiam incluir:
- Ser a única pessoa a poder contar a história;
- Ser filmado/ fotografado por inteiro ou gravar apenas imagens das mãos juntamente com as vozes;
- Determinar se querem usar seus nomes verdadeiros ou fictícios;
- Contar as experiências dos refugiados apenas após a chegada desses ou colocando o enfoque sobre os apadrinhadores.
Em termos de tom e conteúdo::
- Tentar projetar as nuances, a complexidade, a , resiliência e a dignidade de todas as pessoas, inclusive dos refugiados recém-chegados;
- Evitar projetar os patrocinadores como super-heróis ou salvadores da pátria, garantindo que fique claro que os refugiados recém-chegados são pessoas como outras quaisquer e participantes ativos de sua própria adaptação e envolvimento na comunidade.
- Enfatize os objetivos do patrocínio e as oportunidades e dificuldades dessa jornada (veja 1.3 ¿Por qué patrocinar refugiados?)
- Destaque a diversidade das identidades e experiências das pessoas, inclusive da dos refugiados recém-chegados (veja 2.1.3 Considerações sobre a cultura)
O vídeo cita exemplos de pessoas no Reino Unido contando suas experiências com o patrocínio de refugiados pela comunidade.
Recursos
Anistia Internacional – Build a Longer Table With Refugees: Solutions and Actions You Can Take Today Amnesty International
O perigo de uma única história (Vídeo sobre a importância de contar as nuances das histórias)
Anistia Internacional – Respect My Rights, Respect My Dignity: Module 4: Refugees’ and Migrants’ Rights Are Human Rights (pdf, 176 páginas, veja, em particular, a Seção 5)
Open Global Rights – The OGR Guide to Hope-Based Communications (site)
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